sábado, 20 de fevereiro de 2010

Ataque Massivo de Bom Som

Robert Del Naja e Grant Marshall: som livre de rótulos e estilo definido

Sem tricky, o grupo inglês precursor do trip-hop retorna após um hiato de 7 anos sem lançar álbum autoral (contados desde 100th Window de 2003, deixando de fora a trilha de Danny The Dog).

O ex-trio, agora dupla, chegou causando polêmica e tirando o
sono dos mais conservadores ingleses (isso ainda existe?). Os cartazes com a capa deste quinto disco de inéditas foram banidos dos metrôs do país numa censura absurda e infundada por simplesmente lembrar grafitti e arte urbana, algo proibido pela administração dos vagões. Além disso, o primeiro single "Paradise Circus" já saiu com um vídeo promocional disponibilizado livremente aos fãs no site oficial da banda, intitulado e tachado por muitos como pornográfico - os seguidores falam em "arte, belas imagens e exploração da mulher" mas o resultado é pornográfico sem dúvida alguma. Uma senhora relata suas experiências como atriz pornô a tempos atrás e o clipe remonta um dos filmes em que a protagonista trabalhou, misturado ao som da música mais sensual do álbum. Esse é o primeiro de uma serie de quatro clipes de baixo orçamento.

Deixando de lado o barulho causado pela promoção de
Heligoland, o resultado é um disco a altura dos anteriores e uma atmosfera ambient, com marcas profundas da influência de Tricky no grupo. Ficou de lado o trip-hop, entrou em cena uma banda que não se limita a rótulos ou estilo bem definido: é simplesmente som fino e de bom gosto. Contaram com os vocais de Tunde Adembipe do TV On The Radio, Damon Albarn do Gorilazz, Martina Topley-Bird (habituê da falecida cena trip-hop) e Guy Garvey do Elbow. Destaques ficam por conta da atmosférica "Rush Minute", "Psyche" e "Atlas Air". Valeu a pena esperar tanto tempo.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Deslumbramento e Encanto No Exército Americano


"O Recrutador" é um documentário patrocinado pela HBO, participante da seleção oficial do Festival Sundance em 2008 e dirigido pelo relativamente novato Edet Belzberg.

O filme foca o Sargento Clay Usie e sua tarefa
de recrutar soldados no país inteiro, principalmente em pequenas cidades do interior dos EUA. Mostra todo o treinamento pelo qual 4 jovens passam com o Sargento, o orgulho ou desprezo que passam em casa, a pressão sofrida com as notícias de soldados mortos no Iraque, além de todo o lado humano, carismático e verdadeiro que o protagonista mantém. Fica claro ao espectador que o Sgto Usie é um homem apaixonado pelo que faz, acredita cegamente na coorporação pela qual trabalha, mas em certos momentos sentimos uma estranha sensação de que ele é somente uma vítima (mais uma) do sistema idiotizante americano. Bobby, um dos recrutas mais entusiasmados com a idéia de servir o maravilhoso exército americano, quando perguntado sobre o que os soldados fazem simplesmente se enrola num misto de fantasia e infantilidade, sem saber ao menos a realidade podre, suja e chocante do verdadeiro trabalho de um soldado.

Um documento importante de uma realidade que, por muitas vezes, ajuda e tira do fundo do poço jovens sem destino e lançados à sorte; por outro lado mostra uma doutrina idiotizante, que sufoca e aliena. Vale a pena assistir e entender esse mundo a parte e sem sentido algum.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

O melhor do Britpop


Nem Blur nem muito menos Oasis: o melhor do Britpop foi de longe o Suede.


Grupo formado por Brett Anderson (cantor e compositor do Suede) interromperam suas atividades em 2003. Não parando de fazer música até agora, Anderson lançou logo em 2004 junto ao primeiro guitarrista da banda – Bernard Butler – o primeiro álbum de seu projeto The Tears além de dois discos solo (“Brett Anderson” de 2007 e “Wilderness” de 2008).


Ao longo de 10 anos de banda, 5 discos de estúdio e uma coletânea, a fantástica Singles, o Suede fincou seu nome como precursor de um dos gêneros mais interessantes da música no início da década de 90. Justine Frischmann à época era namorada de Brett, mesmo tempo em que se tornou o vocal à frente do grupo Elástica logo após deixar o Suede em 91, cuja sonoridade seguia a mesma linha com um toque mais pesado de guitarras. Justine e sua trupe não conseguiram tanto êxito e acabaram se tornando “banda de um hit só” com “Connection” estourando em 1994 nas rádios do mundo inteiro. Pouco se ouviu falar no Elastica após isso. Já Brett acertou disco após disco, mantendo o bom gosto em tudo.


Singles consegue resumir um pouco disso tudo ao ouvinte: indo de baladas mela-cueca com cara de Duran Duran a exemplo de “Everything Will Flow” ao pop rasgado de “Attitude”, passando pelo ápice do grupo com “The Beautiful Ones”. Sucessos como “Animal Nitrate” não poderiam ser deixados de lado. Uma coletânea homogênea, construída levando em conta o que realmente de melhor a banda fez nesse tempo curto em que estiveram por aí. Deixaram ao público um legado de belas e únicas faixas de puro Britpop sem vergonha alguma do rótulo. Foram os melhores do gênero, com certeza.

sábado, 24 de outubro de 2009

Submissos à experimentação

De volta, o grupo não abandona a fórmula que deu certo

Sem fazer alarde e com pouca promoção, os apreciados Flaming Lips chegam com seu 12º álbum de estúdio intitulado Embryonic.


Contando com retornos às sonoridades antigas (a exemplo de “Evil”, terceira faixa do disco que mais parece ter saído de “Yoshimi Battles The Pink Robots” de 2002), letras inspiradas por temas de submissão e violência trazidas pelo gosto dos caras por filmes como “The Night Porter” (O Porteiro da Noite, no Brasil) da italiana Liliana Cavani; não deixaram a peteca cair e nem perderam sua identidade conquistada após tantos erros de início de discografia. Acertando álbum após álbum, com Embryonic não é diferente. A mistureba é fantástica, única e a cara dos Flaming como podemos ver em faixas como “Aquarius Sabotage” (uma das criações advindas de freak-out jams que o grupo faz, todas apelidadas por signos astrológicos) e “If” (segundo Wayne Coyne, uma resposta à “Evil” cantada por Steven Drozd, o baterista do grupo).


Primeiro disco duplo da banda, segundo Wayne declarou em entrevista recente à revista Billboard, foi a melhor forma escolhida para resolver o dilema da escolha entre o que permanece no álbum e o que se transforma em b-side e completa: “Alguns dos meus discos favoritos, como o White Album dos Beatles, o Physical Grafitti do Led Zeppelin e mesmo algumas coisas mais longas que o Clash fez, parte da razão para gostar deles é que não são focados, eles são livres".Pode-se considerar este como o disco mais “a vontade” dos caras, o som dos Flaming Lips tocado pela primeira vez sem o apelo comercial significativo (salvador da pátria do grupo, diga-se de passagem) de álbuns como “Yoshimi...” e “At War With The Mystics” misturado com profunda experimentação - característica fundamental desses americanos.


Destaque para “I Can Be A Frog” em que Karen O (do Yeah Yeah Yeahs) faz participação especial dando voz ao que Wayne afirma poder ser.


Fantástico!

domingo, 11 de outubro de 2009

Moby Entristece

Estamos em 11 de outubro e, até agora ao que tudo indica, já elegi meu favorito de 2009 com uma facilidade incrível. Moby e seu Wait For me, lançado em junho deste ano, ganham essa íntima disputa com sua atmosfera calma e por vezes sombria, sem deixar espaço para o lado arroaceiro do músico, o qual tanto havia se dedicado esse tempo todo.

Na bela mistura de ritmos negros com arranjos clássicos e eletrônicos de tirar o fôlego, o novaiorquino Moby (Richard Hall na vida real) reaparece em sua melhor forma desde “Play” de 99. A segunda faixa intitulada “Pale Horses” é uma amostra importante do que vem a frente: deixou de lado a pegada pop sem vida a qual já havia se habituado em lançamentos nem tão convincentes assim (a exemplo de “Last Nite” em 2008 e “Hotel” em 2005, todos álbuns festivos), para se dedicar ao que mais lhe cai bem, a mistura de sons étnicos aos computadorizados sem deixar de lado os vocais femininos e as excentricidades como em “Study War” – quarta faixa do álbum, um belíssimo discurso negro musicado.

Tudo em Wait For Me soa íntimo, fácil e extremamente bem cuidado. Nunca Moby soou tão verdadeiro em sua música, transparecendo o que acredita realmente ser qualidade em termos de música. O cara se descortinou pela produção de Ken Thomas do Sigur Rós, além de contar com a sua própria. Contou com a inspiração de um discurso do cineasta e escritor fantástico David Lynch, onde ele tratava da criatividade e os efeitos trazidos pela pressão negativa e positiva do mercado em geral. Entraram em contato e Lynch foi responsável pela direção do clipe do primeiro single do álbum “Shot In The Back Of The Head”.

Produção de um Sigur Rós, inspiração em David Lynch... Imagina-se uma obra-prima, certo? Certíssimo!